• Sexta-feira, 29 de Março de 2024
  1. Home
  2. Geral
  3. Vinte anos do projeto Acolhida na Colônia contados em livro

Geral

Vinte anos do projeto Acolhida na Colônia contados em livro

Obra com selo da Editora Unesc foi lançada em Santa Rosa de Lima 

A história das pessoas que resolveram mudar o seu destino e provocar uma verdadeira revolução no local onde nasceram e viveram seus antepassados. Desta forma o livro “Acolhida na Colônia: Um espaço de vida e encontros...”, apresenta a trajetória dos 20 anos do projeto que tem transformado a realidade das famílias das encostas da Serra Geral, com autoria de Thaise Costa Guzzatti. A obra comemorativa foi lançada pela Editora Unesc na segunda quinzena de agosto, no município de Santa Rosa de Lima, durante a celebração dos 20 anos do projeto.

A proposta de lançamento na própria cidade que sedia o projeto faz parte da estratégia da Editora Unesc de aproximar e promover localmente a obra. Para o editor-chefe da Editora Unesc, professor doutor Dimas de Oliveira Estevam, o fato de o livro trazer uma história tão rica e feita por pesquisadores externos à Unesc reforça ainda mais a marca de excelência da Editora.

Ao longo das 231 páginas, o livro resgata dados históricos, estratégias adotadas, personagens que participaram e fazem parte da iniciativa que fomentou a ideia de buscar uma nova perspectiva econômica para famílias da região, através do agroturismo.  Através de estratégias como o estabelecimento de parcerias para acesso ao crédito, para melhorias da infraestrutura básica dos municípios e das propriedades rurais e ampliação da divulgação da marca, a Acolhida da Colônia chegou a 22 municípios e 111 unidades familiares em Santa Catarina, além de iniciativas em São Paulo e Rio de Janeiro.

A obra traz um relato histórico e ao mesmo tempo é um guia sobre as práticas implementadas pela autora, que é uma das cofundadoras do projeto, atendendo a uma demanda dos próprios integrantes deste movimento. “Há bastante tempo, nossos associados e associadas reivindicavam a sistematização da história da Acolhida na Colônia num livro e me desafiaram a fazê-lo para o aniversário de 20 anos. Foi um processo prazeroso de reflexão e escrita. Revisitei a história, identifiquei pessoas, processos e o contexto onde esta semente foi plantada, como cuidamos dela, os impactos que foram gerados e também as dificuldades pelo caminho. Conhecer histórias de agricultoras que embarcaram neste projeto e o fazem realidade, refletindo, claro, sobre suas falas e aquilo que colocavam como avanços e os dilemas da organização. Enfim, foi escrito com muito carinho e com a esperança de que possa ser útil para que todo o grupo da Acolhida reconheça o caminho já percorrido e se comprometa com o futuro, sobretudo a nova geração”, conta Thaise, na entrevista concedida sobre o livro, que pode ser lida ao final da matéria.

O livro foi dividido em cinco capítulos que revelam ao leitor todos os propósitos da jovem estudante de agronomia, que vislumbrou o agroturismo uma alternativa para o crescimento da agricultura familiar e de manter as famílias no campo. Na época Thaise realizava o Estágio de Vivência em uma Unidade Familiar de Produção (UFP), que foi seguido de atividades por meio das quais procurou dar sentido à sua formação e à sua vida. Em 1997 Thaise seguiu para a França, onde realizou estágio em “Turismo Rural”, e conheceu uma diversidade de propostas e experiências que se tornaram balizadoras para a concepção do projeto, tendo como parceria a organização Accueil Paysan.

Dali para frente, de volta ao Brasil, ela recupera o processo de aproximação com as Encostas da Serra Geral, território rural onde se daria a realização do primeiro esforço conjunto de implantação da proposta de atividade rural não agrícola, baseado na concepção da Accueil Paysan. “Nesse caso, trazer à memória os “choques de realidade” – no sentido de que o projetado precisava ser adequado às condições efetivas locais – me pareceu pleno de significado”, conta Thaise.

Thaise narra nos cinco capítulos, como foi se envolvendo com a agricultura familiar. Inicialmente ainda como estudante, observando os contrastes econômicos vividos pelos agricultores e o impacto do trabalho árduo, muitas vezes sem o retorno esperado. Mais tarde trazendo propostas que viriam a transformar essas realidades, através de uma proposta de “tecnologia social inovadora”.

O livro apresenta as histórias de transformação de dez Unidades Familiares, os desafios e as conquistas ao longo da caminhada. Entre as muitas conquistas, além da transformação da realidade local, o projeto virou um verdadeiro case de sucesso. Em 2018 Thaise recebeu o Prêmio Nacional de Turismo de 2018, categoria profissionais do terceiro setor, pelo Ministério do Turismo. Em 2016 o projeto foi agraciado com o Troféu Beto Carrero de Excelência, na categoria empreendimento turístico.

“Registrar em um livro a história deste projeto premiado internacionalmente, visa contribuir para o avivamento do vigor da Acolhida na Colônia, bem como disseminar a ideia do agroturismo e motivar mais pessoas, municípios ou territórios a refletirem sobre a pertinência em construir localmente esse tipo de experiência. Um ponto fundamental para tal consecução é que o livro foi elaborado por uma Educadora do Campo e animadora de processos de desenvolvimento rural altamente compromissada com o que faz e que não abre mão de refletir sobre o que faz. Outro, é a própria riqueza de significados – econômico, social, ambiental e cultural – que a proposta de agroturismo traz com ela e que a história da Acolhida na Colônia tão vivamente explicita”, explica o engenheiro agrônomo Wilson Schmidt, o Feijão, na apresentação da obra.

Entrevista com a autora

Assessoria de Imprensa, Comunicação e Marketing da Unesc (Aicom) Passados 20 anos do início do projeto, qual a sua visão hoje do trabalho realizado?

Thaise Costa Guzzatti – Olha, acho que nosso grupo fez uma "pequena revolução". Há 20 anos, quem pensaria em trabalhar com turismo nos locais que nos desafiamos? Infraestrutura péssima, com estradas não pavimentadas, sem telefone nas casas/comunidades rurais, sem sinalização, famílias empobrecidas. Foi (e é!) um trabalho árduo. Só foi possível porque os/as agricultores/as pioneiros/as foram muito corajosos/as... eles/as tinham um amor por sua terra, não queriam migrar. Fizeram dar certo para eles e abriram portas para muitos outros. Certamente o leitor irá descobrir, logo nas primeiras páginas, que minha crença neste projeto e na sua capacidade transformadora não me permite falar das dificuldades...

Aicom – O projeto tem sido replicado para outras regiões?

Thaise Costa Guzzatti – Sim, tem sido! É um processo lento e que demora a ser desenvolvido. Mas, estamos avançando em diversos municípios de Santa Catarina e outros Estados. Há um grupo em São Paulo (sim, dentro da cidade de São Paulo!), uma semente em Casimiro de Abreu/RJ e uma discussão com pequenos agricultores de Alta Floresta/Mato Grosso.

Aicom – Há ainda um grande caminho a ser percorrido no que se refere ao desenvolvimento do turismo rural na nossa região?

Thaise Costa Guzzatti – Avançamos muito nos últimos anos e o trabalho da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) precisa ser destacado. Além do excelente trabalho de assistência técnica e extensão rural que prestam aos agricultores familiares, executaram o Programa Santa Catarina Rural, o qual permitiu investimentos consistentes em propriedades rurais e, mesmo, em melhoria da infraestrutura básica em comunidades rurais. Foi um projeto com muitos resultados e que merece ser continuado. Além disso, outro ponto de inflexão, falando do turismo junto ao segmento da agricultura familiar, foi a aprovação e regulamentação de legislação que ampara o desenvolvimento da atividade. Esta foi uma grande luta da Acolhida nos últimos 20 anos. Mas, de fato temos muitas possibilidades. Temos um estado rico em belezas naturais, clima peculiar, povo acolhedor e mais de 180.000 propriedades rurais. Há potencial (e necessidade!), para parcela importante destas unidades, do desenvolvimento de novas atividades produtivas como o agroturismo.

Aicom – O que te move ainda nessa caminhada?

Thaise Costa Guzzatti – A possibilidade de fazer parte de um processo de transformação social. A Acolhida na Colônia dá sentido, hoje, ao meu trabalho como professora-pesquisadora universitária no Departamento de Educação do Campo da Universidade Federal de Santa Catarina. Certamente ganho mais que dou, sempre, para este projeto...

Texto: Ana Sofia Schuster 

Fotos: Divulgação

Estradas da Gaivota recebem mais de 80 mil km² de saibro Próximo

Estradas da Gaivota recebem mais de 80 mil km² de saibro

Carteirinha de Estudante em um clique Anterior

Carteirinha de Estudante em um clique

Inscreva-se em nossa Newsletter

Fique por dentro das nossas novidades.