Se tudo ocorrer dentro dos conformes, ex-deputado federal Jorge Boeira deverá deixar o Progressistas para se filiar ao PSB até o dia 10 de novembro. O objetivo da mudança é bem claro: ser candidato ao Governo do Estado por sua nova legenda, de preferência com o apoio do PT.
Boeira já havia manifestado a intenção de disputar a majoritária estadual no pleito de 2018. Naquele momento, seu partido não vinha se entendendo quanto a quem poderia ser o candidato ao governo pela legenda. Aos 45 do segundo tempo o então deputado federal Esperidião Amin (PP) fechou questão com o então deputado estadual Gelson Merisio, a época filiado ao PSD. Amin decidiu disputar o Senado Federal, jogando o Progressistas no coloco da dobradinha PSD/DEM, que disputou a governadoria e a vice-governadoria. Ficou a nítida impressão que o Progressistas havia sido rifado em nome de um projeto pessoal de Esperidião. Descontente com os desdobramentos à época, Jorge Boeira decidiu não concorrer à reeleição, o que acabou colocando uma pá de cal na chama proporcional de seu partido em nível federal.
Com vistas à 2022, Boeira intentou novo projeto majoritário. Dispôs-se a disputar o governo, a vice-governadoria ou o Senado pelo Progressistas. Desde então, não obteve o respaldo necessário do partido, que, a passos largos, passou a se aproximar cada vez mais do governador Carlos Moisés da Silva. A situação chegou a tal ponto que no último sábado, durante encontro região do Progressistas, vários líderes do partido manifestaram franco apoio a Carlos Moisés, mesmo com Boeira estando na mesa de autoridades como pré-candidato ao governo pelo partido. Diante dos fatos, naquele dia a saída de Jorge Boeira da sigla já parecia sentenciada.
Boeira aposta em ampla aliança de esquerda
A estratégia de Jorge Boeira para 2022 é bastante clara. Ele pretende disputar o Governo do Estado tendo o PT como seu vice, e, de preferência, um rosário de partidos de esquerda e centro-esquerda em seu entorno. Vale lembrar que Boeira já foi filiado ao PT, exercendo mandatos de deputado federal pelo partido entre 2003 e 2011, ocasião em que deixou a legenda para se filiar ao PSD. Logo em seguida, no entanto, o então deputado deixou o PSD e se filiou ao Progressistas, por onde disputou novo mandato em 2014. Interessante observar que Cláudio Vignatti, atual presidente do PSB catarinense, também era deputado federal pelo PT à época em que Boeira estava no partido. A afinidade entre ambos não é de agora.
Proximidade entre Jorge Boeira e Vignatti não é de hoje
As fichas de Jorge Boeira e Cláudio Vignatti, no PSB, convergem para a mesma aposta. Egressos do PT, ambos acreditam que possam convencer a legenda de Lula a apoiar uma candidatura governamental de um partido de esquerda menos estigmatizado. O PSB catarinense chegou a ser comandado por Paulinho Bornhausen durante vários anos, o que deu ao partido um carácter de neutralidade no cenário estadual. Especificamente no Sul do Estado, o partido até chegou a estar próximo do movimento sindical, isto na década de 1990, mas em outras regiões catarinenses não se identificou com a esquerda ideológica, situação capitaneada pelo PT e outras legendas, a exemplo do PCdoB, Psol ou PCB. Em princípio, o PSB pode ser ‘vendido’ como um partido de centro.
Boeira teria que chegar aos 28% para emplacar no segundo turno
Um projeto de esquerda para Santa Catarina ano que vem não é tarefa fácil de ser construído, principalmente por conta da boa aceitação que o presidente Jair Bolsonaro vem conseguindo no Estado. A aceitação média do presidente em solo catarinense está na casa dos 65%. Por conta disto, Jorge Boeira corre um risco eminente ao colar sua imagem, de candidato a governador, a imagem de Lula da Silva, de candidato à Presidência. De todo modo, este é o caminho mais fácil de Boeira eventualmente chegar ao segundo turno da eleição estadual, algo que deve ser conseguido se ele alcançar cerca de 28% dos votos válidos do eleitorado no primeiro turno. De todo modo, isto só será conseguido efetivamente diante de uma grande aliança de esquerda no Estado.
Com Bolsonaro presidente e Amin governador PP ressurgiria forte
Em que pese um clima de estranhamento dentro do Progressistas, por conta da saída de Jorge Boeira do partido, a legenda pode literalmente ressurgir das cinzas em Santa Catarina, ano que vem, caso o presidente Jair Bolsonaro se filie a sigla, algo que está muito bem encaminhado. Isto levaria fatalmente o senador Esperidião Amin a disputar o Governo do Estado, inflamando os ânimos das bases conservadoras da sociedade catarinense, que provavelmente aderiria à dobradinha. O partido emplacaria tranquilamente entre seis e oito deputados estaduais, e entre três e quatro federais, além de ter reais chances de eleger o governador. Para isto, é claro, o Progressistas não poderá se entregar ao governador Carlos Moisés.