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Busca por CNH despenca 25% entre os jovens de SC

Com preços altos, trânsito caótico e facilidades da tecnologia e seus aplicativos, jovens estão cada vez mais longe de tirar a primeira habilitação.

Apertar o cinto de segurança, encontrar o ponto dos pedais, verificar o ponto da marcha, soltar o freio de mão e dar partida no carro. Dirigir pode ser o sonho e um dos maiores símbolos de liberdade existentes.

No entanto, os números comprovam: a busca pela carteira nacional de habilitação despencou 25% entre os jovens de Santa Catarina nos últimos quatro anos.

A obrigatoriedade de frequentar os CFCs (Centro de Formação de Condutores) para conquistar a primeira habilitação, aliada às questões econômicas – como os reajustes e a inflação -, explicam, em parte, esses números. Outro ponto relevante é a mudança de percepção acerca do tema.

Se para as gerações mais velhas o fato de pegar no volante era símbolo de liberdade e autonomia, a ‘Geração Z’ – que abarca nascidos a partir de 1995 e até 2010 -, em parte, tem outra opinião sobre o assunto.

Num mundo cada vez mais tecnológico e caro, optar por aplicativos de transporte ou, até mesmo, pelos tradicionais ônibus, é a saída encontrada.

Não significa que dirigir deixou de ser algo interessante ou, no mínimo, curioso para os jovens adultos. Mas, cercados de opções mais fáceis e baratas, assumir a direção de um veículo deixou de ser uma prioridade, passando a estar em segundo ou terceiro plano para os mais novos.

Estatística do Detran mostra queda na emissão de CNHs

De acordo com os dados do Detran/SC (Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina), houve redução no números de jovens entre 18 e 21 anos que buscaram uma autoescola no Estado para dar início ao processo de habilitação nos últimos quatro anos.

Desde 2018, os números registram que, além de assustados pelos preços das autoescolas, os jovens também deixaram a CNH para outro momento, em especial, por conta da pandemia de Covid-19, período de maior queda no número de alunos com até 21 anos nos CFCs.

Desde aquele ano, os dados apontam queda de 24,3% no número de jovens que tiraram CNH, até o momento atual. Em 2020, as estatísticas mostram redução de 26,9%.

Geração Z ao volante

Para os jovens adultos, não faltam motivos para deixar a CNH para depois. Trânsito violento, estresse, altos preços de autoescola e gasolina, além da mobilidade urbana comprometida estão entre os maiores vilões na hora de optar pelos aplicativos de transporte ou pelos ônibus.

Contudo, vale entender a mente deles um pouco mais a fundo. A percepção sobre o trânsito nos dias de hoje faz com que alguém que esteja saindo da adolescência, uma fase naturalmente permeada por medos e inseguranças, acabe por criar certa aversão às estradas.

É o caso da estudante Júlia Matos. Aos 21 anos, ela está prestes a terminar a autoescola e conta porque só agora decidiu tirar a carteira, três anos após atingir a maioridade.

“Para mim, ainda estava ligado a uma questão de autonomia e até de necessidade em ajudar em casa. Por isso, acabei optando em tirar a carteira agora, se não, teria adiado por mais um tempo”, contou.

No entanto, ela diz perceber uma vontade menor nos jovens de tirar a carteira, por acreditar que há várias outras formas de conquistar a própria independência.

A estudante ainda lembra que, ao terminar o ensino médio, em 2017, tinha como prioridade aprender a dirigir. Mas, após ser aprovada no vestibular da UFSC, começou a depender do transporte coletivo para se locomover, indo de Palhoça até a universidade. Com isso, pôde perceber a violência nas ruas e a impaciência dos motoristas, o que a fez repensar a escolha por dirigir.

“Ao mesmo tempo, minha mãe sempre teve medo por mim, tanto de acidente quanto em relação à intolerância das pessoas no trânsito, que estão mais impacientes. Então, ela sempre quis adiar esse momento de eu tirar a carteira”, explica a jovem.

Sob o olhar profissional

Se para a Geração Z o fato de conduzir um carro não representa total liberdade, não se pode dizer o mesmo da Geração X e, até mesmo, dos Millenials.

A diferença entre os objetivos de cada grupo, de acordo com a época em que nasceu e foi criado, é explicada pela doutora em psicologia e psicóloga clínica, Vanessa Cardoso.

“Se formos olhar para 20 ou 30 anos atrás, assumir o volante era uma grande conquista na vida, os jovens buscavam essa conquista para almejarem o próprio carro ou somente a CNH, mesmo. Dirigir ainda é uma questão de extrema autonomia e independência”, pondera.

A profissional continua, refletindo sobre o comportamento dessa faixa etária. “No Brasil, vemos o chamado alargamento do processo de adolescência, onde jovens que ficam na casa dos pais por muito tempo, acabam tendo impacto no desenvolvimento emocional. A partir daí, não se responsabilizam, inclusive, por tirar a própria carteira de motorista”.

Vale entender também que a questão emocional não é a única agente neste processo. Mudanças de perspectivas e de oportunidades acabam influenciando a cabeça dos jovens, que são atraídos por outros produtos que não seja um carro.

“Outra questão estrutural no mundo é o fato de que sai caro ter um carro, hoje. Os jovens acabam optando por investir seu dinheiro em outras coisas, como viagens e marcas de luxo, por exemplo. O carro não representa mais um objeto de desejo para esses jovens e, consequentemente, a CNH vai ‘no mesmo embalo'”, explica.

Transporte na palma da mão

Talvez o mais famoso dos motivos, os aplicativos de transporte aparecem como figura essencial na mudança de percepção sobre o tema. Com um mundo de possibilidades que cabem na palma da mão e por um preço muito mais acessível do que a própria CNH, por exemplo, a tecnologia mudou a forma de viver do público mais jovem.

Gabrielli Sarmento, de 20 anos, estudante do curso de Medicina Veterinária da Udesc, em Lages, vive entre a principal cidade da região Serrana e a Grande Florianópolis, onde mora a família.

Desde que saiu do Litoral para viver na Serra, um dos meios de transporte mais utilizados pela aluna é o carro, mas a condução fica a cargo de outra pessoa, já que ela prefere o compartilhamento de viagens com a divisão dos custos, que consegue através do ‘BlaBlaCar’.

“Por eu não ter um carro, utilizo demais esses aplicativos de viagens. Inclusive para ir para Lages”, explica a aluna.

O fato de não ter um veículo disponível foi um dos pontos que levou Gabrielli a não buscar uma autoescola até o momento, além de outros motivos. “Acredito que, pelo fato de eu não ter acesso a um carro, não vi necessidade de tirar [a carteira]”.

A estudante pontua motivos pelos quais gostaria de assumir o volante. “É uma forma de independência e, se ocorrer alguma emergência, ter um meio de transporte acessível ajuda muito”, concorda.

Na contramão, ela cita a falta de dinheiro pra comprar um carro e buscar uma CNH, além da própria gasolina, que vem atingindo altos preços nos últimos meses.

Mesmo assim, ela não descarta tirar a carteira de habilitação no futuro. “Atualmente, não penso nisso, mas em um futuro onde eu me encontre financeiramente estável, talvez eu pense em tirar a habilitação”, finaliza.

De pai para filho

As gerações mais novas possuem, logicamente, alto contraste com as gerações passadas. Os jovens que chegam aos 18 anos de idade após o ano de 2010 apresentam características semelhantes e, entre elas, pode estar a chamada “adolescência prolongada”, como explica Vanessa.

“Há também a geração que cuida destes jovens, que fazem, ainda, a contrapartida para que eles continuem infantilizados. Temos os dois lados da equação: jovens com medo e pais que permanecem cuidando de seus filhos com 30 ou 40 anos, dentro de casa. Há um conluio aqui no Brasil, principalmente, pois temos essas realidade cultural”, sinaliza.

Com a comodidade da ‘superproteção‘ dentro das próprias casas, a psicóloga explica que, somado ao conforto e às facilidades do mundo atual, acaba por ocorrer uma acomodação entre os mais novos, que ela classifica como um estilo de vida ‘oito ou oitenta’.

“Há uma dificuldade de emancipação desses jovens por todos os lados da família, em querer ter uma vida já muito estruturada. ‘Se não for pra ter o meu carro ou a minha casa, eu nem tenho’, eles dizem. Esse modelo de ‘oito ou oitenta’ é uma realidade de uma mentalidade infantil que não se arrisca e que poderia, pouco a pouco, ir crescendo e conquistando essa liberdade com a questão da direção”, completa.

Fonte: ND Mais 

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