Se você é dessxs atentxs às novas marcas no Instagram deve perceber militâncias através da moda por aí. As marcas vêm atribuindo carga política em seu diálogo, sejam sustentáveis ou a favor da igualdade de gênero. Nos últimos tempos tenho percebido que o discurso deixou de vir apenas de microempresas, – na qual os empresários e designers estão antenados ao futuro consumidor, logo faz sentido o discurso libertador e pró-sustentabilidade – mas vindo lá de cima, das maisons de alta costura.
Sabendo que as ditadoras de moda e tendência são, demasiadamente, as grifes internacionais de luxo, percebemos a latente busca por uma sociedade politizada através da moda, que sempre foi repressora, quando essas mesmas grifes começam a abordar tais temas: feminismo, padrão de beleza excludente, sustentabilidade, entre outros.
Para Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, “a maquiagem não deve mascarar, mas sim exaltar falhas e torná-las parte da linguagem da beleza.” Ampliando seu diálogo sobre beleza, Gucci lança uma lindíssima campanha-manifesto com a cantora Dani Miller, da banda punk Surfbort.
Com o slogan feminista dos anos 70 "my body, my choice" (meu corpo, minha escolha) estampando as costas de blazers, a marca reforça seu apoio à igualdade de gênero. Essa tendência a gente já vê bastante por aí, né? Como “the future is female” (o futuro é feminino) estampado em camisetas.
O ápice do último desfile e coleção da Gucci foi o vestido com útero bordado que carrega todo um simbolismo de forma singela, e a estampa 22.05.1978, data em que a legislação para proteção social materna e aborto entrou em vigor na Itália, local matriz da marca. Para Michelle"É inacreditável que, em todo o mundo, ainda haja pessoas que acreditam que podem controlar o corpo de uma mulher, a escolha de uma mulher”.
Com uma das coleções mais bem sucedidas da temporada cruise 2020, a Dior trouxe uma integração incrível de mão de obra artesanal à passarela. Com todo o cuidado para não cair no delicado terreno da apropriação cultural, Maria Grazia, diretora criativa da marca (foto acima) utilizou o conhecimento têxtil e confecção de países como Costa do Marfim - de onde vieram as estampas feitas em cera, com processo típico do local - e do Marrocos, onde a marca se uniu com um grupo de mulheres para trabalhar nos tecidos e decoração do desfile.
As mulheres da comunidade com a qual a Dior colaborou nunca haviam trabalhado antes ou produzido peças que saíssem do pequeno vilarejo onde vivem. Até pouco tempo atrás, o acesso ao local era feito apenas de burro ou a pé. A iniciativa de incentivo e valorização ao artesanato é linda.
A Chanel, após banir peles e couros exóticos da marca (#GoVegan rs), se tornou sócia minoritária da Evolved by Nature, firmando que a ambição da empresa é "substituir completamente a necessidade de químicos sintéticos não divulgados." A tecnologia explorada pela Evolved by Nature (e patenteada pela empresa) pode reduzir os sinais de desgaste no cashmere, como aquelas bolinhas que se formam com o uso frequente, e melhorar a performance de tecidos como nylon e poliéster. A marca também está atuando na redução da emissão de carbono na produção. Vida longa ao trabalho de Virginie Viard, primeira diretora criativa a frente da Maison depois de Coco Chanel, assumindo o cargo após o falecimento de Karl Lagerfeld este ano e trazendo melhorias sustentáveis à marca e ao planeta.